Fluminense leva plano tático de Renato à perfeição e vive tarde mágica ao eliminar a Inter

Treinador muda esquema tático, vê atletas fazerem partida impecável e se classifica com méritos. Diante da Inter de Milão, Tricolor aumenta retrospecto de nunca perder para italianos na história

Por Marcello Neves — Charlotte, EUA

O Fluminense viveu a sua noite mais mágica desde o dia 4 de novembro de 2023. Não foi um título como o da Conmebol Libertadores, mas a vitória por 2 a 0 sobre a Inter de Milão, nesta segunda-feira, em Charlotte, também é simbólica. Após 28 anos, o Tricolor volta a vencer um adversário europeu, além de manter a invencibilidade histórica contra times italianos. Tudo isso levando um plano tático à perfeição e honrando a alcunha de “Time de Guerreiros”.

Tudo deu certo para o Fluminense no Bank of America Stadium. No plano tático, a estratégia de Renato Gaúcho de mudar seu esquema para atuar com três zagueiros foi perfeita para espelhar o jogo da Inter de Milão. Minou as melhores jogadas dos italianos, tirou espaços dos craques adversários e seguiu o planejado pelo Tricolor. Aula do início ao fim — e uma demonstração clara de que se defender e se acovardar são coisas diferentes.

No plano de vista técnico, não teve um jogador do Fluminense com atuação mediana. Todos, sem exceção, encararam a partida com o peso que ela tinha. Demonstraram fôlego, inteligência e coração para eliminar o atual vice-campeão da Champions League. O trio de zaga formado por Ignácio, Thiago Silva e Freytes foi impecável. Os cinco volantes utilizados, Bernal, Martinelli, Nonato, Hércules e Lima se mostraram incansáveis. No ataque, Arias e Cano foram decisivos.

Já sobre o clube, estar entre as oito melhores equipes do mundo nesta Copa do Mundo de Clubes é impressionante. O Fluminense era, disparadamente, a menor folha salarial entre os 16 classificados para as oitavas de final. Agora, verá a distância aumentar ainda mais nas quartas de final. Num futebol onde dinheiro é cada vez mais importante, o Tricolor dá uma enorme demonstração de grandeza mesmo com todas as suas limitações.

O adversário da próxima fase será o Al Hilal. Novamente, o Tricolor não será favorito. Mas, vale refrescar a memória. Na teoria, era para o Fluminense ser derrotado por Borussia Dortmund e eliminado pela Inter de Milão. Na prática, segue vivo. Na próxima fase, a classificação será decidida em 90 minutos.

O primeiro tempo do Fluminense em Charlotte foi de almanaque. Na parte tática, física e de inteligência. Mérito do técnico Renato Gaúcho que, ao espelhar o esquema tática da Inter de Milão, conseguiu anular algumas das principais jogadas da equipe italiana. Em especial, Dumfries, que teve pouco espaço para atacar e subir. Com o jogo direcionado para o centro, o Tricolor levou vantagem.

Lautaro ficou preso nas duas linhas de defesa. Dumfries, travado na dupla marcação. Marcos Thuram levava a pior nos duelos individuais, e o Fluminense evitava os ataques adversários. Com mérito, abriu o placar logo que conseguiu subir ao ataque.

Bernal, que foi escolhido por Renato Gaúcho para ser titular, roubou a bola no meio-campo e abriu rápido para Arias. Ao lado de Nonato, veio o cruzamento que foi completo com a cabeçada de Cano. O 1 a 0 no placar mudou o panorama da partida, aumentando a urgência de Inter de Milão, mas também trazendo o jogo para os moldes que o Fluminense estava preparado.

Não que a Inter de Milão não levasse perigo, afinal, Fábio fez duas grandes defesas na primeira etapa. Mas aquela pressão avassaladora não existiu. Do outro lado, Ignácio chegou a marcar o segundo gol para o Fluminense, mas estava impedido. Samuel Xavier também teve uma chance clara, mas bateu para fora. Taticamente, a equipe de Renato Gaúcho conseguia anular o adversário e levar perigo.

Até mesmo as confusões no final favoreceram ao Fluminense. Quando Mikhtaryan discutiu com Renato Gaúcho, o tempo foi gasto. Os pedidos de cartões vermelhos após entradas fortes em Ignácio e Cano também contribuíram para esse cenário. Na ida para o intervalo, o caminho estava claro para o Tricolor.

Na volta para o segundo tempo, o cenário se manteve. O incômodo da Inter de Milão ficou evidente quando Chivu fez três substituições com apenas seis minutos da segunda etapa. Trocou peças, mudou formação, mas não conseguia sufocar o Tricolor. A prova de que o plano tático de Renato Gaúcho estava funcionando é que as suas trocas foram apenas por posição: volante por volante, atacante por atacante.

A dúvida era se o Fluminense conseguiria manter o nível de intensidade no alto durante toda a partida. Conseguiu, mas muito pelas trocas nos momentos certos feitas por Renato. Quando o time ameaçava ceder pelo cansaço, o banco de reservas surgia para oxigenar. O calor forte em Charlotte também contribuiu para cansar o adversário e dar espaços.

Na reta final da partida, a Inter se lançou totalmente para o ataque. Naturalmente conseguiu criar chances de perigo. Fábio fez um milagre. Os italianos acertaram a trave duas vezes. Mas não tinha fôlego para sufocar. Mérito do Fluminense que também não se desesperou conforme o cronômetro foi passando.

Do outro lado, o Fluminense tinha o contra-ataque. Num deles, matou o jogo com Hércules. Ao apito final, a festa foi justa para quem foi melhor taticamente em campo. O vice-campeão da Champions sucumbiu e as quartas de final terão o campeão da Conmebol Libertadores de 2023.