Em ano de eleições municipais, política em Mato Grosso do Sul também foi marcada por traições, atentados e até morte
Thalya Godoy – Midiamax 30/12/2024
A política em Mato Grosso do Sul, neste ano, foi uma verdadeira ‘novela’. A trama, digna de obras de João Emanuel Carneiro (Avenida Brasil/A Favorita/Todas as Flores), envolveu político preso, assassinato, atentado e traições. Porém, o enredo também sofreu reviravoltas positivas, como o aumento – ainda que tímido – de mulheres eleitas como prefeitas nas eleições de 2024.
Entre as chefes do executivo, destaca-se a disputa eleitoral em Campo Grande. Pela primeira vez na história, a Capital viu o segundo turno ser disputado por duas mulheres.
Rose Modesto (União Brasil) e a prefeita Adriane Lopes (PP) deixaram para trás figurões da política e conquistaram a preferência dos eleitores. Já no interior, algumas gestões municipais foram marcadas por escândalos de corrupção e até mortes.
Confira os principais destaques da política em MS em 2024
Vereador preso
Em 3 de abril, o vereador de Campo Grande, Claudinho Serra (PSDB), foi detido em casa durante a terceira fase da Operação Tromper. Ele ficou na cadeia por 23 dias e foi solto com tornozeleira eletrônica. O parlamentar foi o primeiro a ser preso durante o exercício do mandato na Capital.
O tucano emendou licenças com atestados médicos e nunca mais participou de uma sessão na Câmara de Vereadores de Campo Grande. Após briga na Justiça, o oitavo suplente do PSDB, Gian Sandim, acabou assumindo a vaga de Serra durante a licença.
Serra é réu por chefiar um suposto esquema de corrupção em Sidrolândia, município a 70 km de Campo Grande, na época em que foi secretário de Fazenda, Tributação e Gestão Estratégica. A sogra do tucano é a prefeita – não reeleita – Vanda Camilo (PP).
Escândalo de corrupção
Outra gestão municipal que foi alvo de escândalo de corrupção foi a de Terenos, município a 31 km de Campo Grande, comandada pelo prefeito Henrique Wancura Budke (PSDB) – reeleito nas eleições de outubro.
A investigação do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado) apontou suposta organização criminosa que fraudava licitações com participação de servidores municipais de Terenos.
O secretário de Obras e Infraestrutura de Terenos, Isaac Cardoso Bisneto, foi preso em 13 de agosto durante a Operação Velatus. Ele teve o pedido de liberdade negado pela Justiça no início de dezembro.
E ainda falando de interior…
Já em Anastácio, o ex-vereador Wander Alves Meleiro, conhecido como Dinho Vital, foi morto a tiros durante uma comemoração pelo aniversário da cidade, em 8 de maio. O caso comoveu a população do município a 138 km de Campo Grande, que fez passeatas pedindo por justiça.
A morte ocorreu após Dinho ter discutido com o ex-prefeito de Anastácio, Douglas Figueiredo. Dois policiais militares que faziam a segurança de Figueiredo atiraram contra Dinho Vital alegando legítima defesa. O sargento Valdeci Alexandre da Silva Ricardo e o cabo Bruno Cesar Malheiros dos Santos chegaram a ser presos.
O assassinato de Dinho acabou respingando na política de Anastácio. Douglas Figueiredo (PSDB), que era o pré-candidato para disputar a prefeitura, foi preterido no ninho tucano após o escândalo.
A aposta do PSDB acabou sendo o ex-secretário de saúde de Anastácio, Manoel Aparecido da Silva, conhecido como Cido, enquanto a candidata a vice-prefeita foi a própria mãe de Dinho Vital, a Maria Vital (PP). A chapa foi eleita com 6.396 votos.
Outro susto no interior de MS…
…foi o atentado contra a prefeita e, então candidata a reeleição de Jardim, Clediane Areco Matzenbacher (PP). Ela dormia no quarto com o marido, na madrugada do dia 29 de setembro – uma semana antes do primeiro turno – quando a residência foi alvejada com cinco tiros por uma dupla em moto. Ninguém ficou ferido. Em conversa com o Midiamax na época, Clediane contou que via motivações políticas por trás do atentado.
Ela ficou em segundo lugar na corrida eleitoral, perdendo para Guga (PSDB), que recebeu 50,07% dos votos válidos. A Progressista teve 30,55% dos votos válidos.
E falando sobre mulheres na política…
…Mato Grosso do Sul teve uma melhora na quantidade de mulheres eleitas como prefeitas em 2024. O Estado passou de cinco, em 2020, para 13 mulheres eleitas, neste ano, para comandar o executivo municipal.
Apesar de dobrar este número, o salto ainda é tímido, visto que representa apenas 16,45% dos 79 municípios de Mato Grosso do Sul, enquanto as mulheres correspondem a mais da metade do eleitorado do Estado.
Primeira mulher eleita prefeita em Campo Grande
Esta lista inclui a disputa em Campo Grande que, pela primeira vez, teve duas mulheres no segundo turno. A prefeita Adriane Lopes (PP) acabou reeleita na disputa contra Rose Modesto (União Brasil) ao receber 222.699 (51,4%) dos votos válidos.
Durante a corrida eleitoral, vale lembrar que até Nicole Bahls entrou na campanha para apoiar a prima conservadora Adriane Lopes. A modelo publicou um vídeo nas redes sociais pedindo votos para a prefeita e revelou que cresceram juntas no Paraná.
No dia da vitória, em 27 de outubro, a progressista prometeu que a gestão continuará focada em áreas prioritárias. “A população da nossa cidade reconheceu que dois anos e meio é pouco tempo, mas que os avanços já iniciaram e agora é dar continuidade no trabalho. A partir de segunda-feira retomar os avanços, trabalhar pela saúde, infraestrutura e tudo aquilo que a gente ouviu e entendeu nesse tempo tão importante, numa eleição tão difícil, tão disputada”, afirmou no dia da reeleição.
Articuladora da direita
Já nos bastidores, a maior vencedora foi a senadora Tereza Cristina (PP). A política se posicionou como a articuladora da direita ao derrotar poderosos, ex-poderosos e até Bolsonaro para eleger a primeira prefeita da história de Campo Grande.
A lista dos ‘atropelados’ por Tereza Cristina inclui desde antigos aliados, como o ex-governador Reinaldo Azambuja e seu articulador Sérgio de Paula, que tentaram emplacar Beto Pereira (PSDB) ao invés de apoiar o projeto da senadora, até o ex-presidente Jair Messias Bolsonaro.
Bolsonaro preferiu apoiar o candidato tucano e deixou sua ex-ministra da Agricultura sozinha em Campo Grande. A jogada marcada como traição acabou rachando a direita em Mato Grosso do Sul e tirando do jogo várias candidaturas do PL no interior do Estado.
Eleições de 2024
Nas eleições em outubro, o recado dos eleitores nas urnas foi de renovação. Apenas 31 dos 79 prefeitos foram reeleitos para a próxima legislatura e a mudança nas gestões chega a 62%. Assim, 48 prefeitos compõem novo quadro.
Já em Campo Grande, mais do que a metade dos vereadores devem dar adeus à Casa de Leis a partir do próximo ano. Entre os 29 parlamentares, 15 devem estrear ou retornar ao legislativo municipal a partir de 1º de janeiro de 2025.
Entre os projetos, destaca-se a reforma administrativa da Prefeitura Municipal de Campo Grande, aprovada em dezembro sob protestos de alguns setores diante da proposta de extinção das pastas de cultura, mulher e juventude.
A solução encontrada pela prefeita Adriane Lopes foi reformular o projeto enviado à Casa de Leis e criar três secretarias-executivas para alocar essas áreas. Já entre as novidades, está a criação da Secretaria Municipal da Casa Civil e a Secretaria Municipal de Articulação Regional.
Assembleia
Já na Alems (Assembleia Legislativa de Mato Grosso do Sul), o ano foi marcado por eleição da Mesa Diretora – que manteve a mesma composição – e mais de 430 projetos de lei, somados a ofícios, audiências públicas e reuniões de comissões.
Segundo o presidente da Mesa Diretora, o deputado estadual Gerson Claro (PP), o trabalho na Casa de Leis durante o ano atendeu a demandas populares e de categorias dos servidores públicos.
“Entre os destaques do ano, posso mencionar o avanço em pautas relevantes, como o apoio aos servidores da Polícia Penal, da qual tive a honra de ser autor da emenda de criação da categoria [em 2021]. Também destaco a Lei do Pantanal, que foi fruto de amplos debates e representa nosso compromisso com a proteção ambiental”, afirma o deputado.
O parlamentar relembra que foram aprovadas leis encaminhadas pelo Tribunal de Justiça e outras iniciativas visando estabilidade política, econômica e social no estado. Contudo, pontua que o Legislativo também rejeitou algumas propostas “que não atendiam às necessidades do Mato Grosso do Sul”.
“Olhando para 2025, debates desafiadores estarão presentes, como a terceirização na saúde e a questão da pesca, que envolve o campo turístico e pescadores profissionais. A Assembleia continuará sendo o espaço de construção de consensos, ouvindo todas as partes e tomando decisões que garantam um futuro próspero para nosso estado e para as próximas gerações”, projeta.
De olho nas prefeituras…
Em ano de eleições municipais, o Governo de Mato Grosso do Sul investiu em se aproximar das 79 prefeituras ao anunciar o “Programa MS Ativo – Municipalismo”. O projeto foi divulgado, em abril, com a promessa de distribuir R$ 1,5 bilhão entre os municípios de Mato Grosso do Sul.
O programa foi estruturado em três fases, pensando no investimento em áreas como infraestrutura, educação, saúde e inclusão social. O governo ainda lançou a meta ambiciosa de asfaltar todas as ruas do Estado até o fim do mandato.