Fonte: FolhaMS
Um pacote de investimentos de R$ 30,2 milhões será aplicado pelo DNIT (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes) para tentar conter o índice de mortalidade da fauna silvestre na BR-262. O projeto abrange o trecho pantaneiro entre Aquidauana e Corumbá e prevê a instalação de 170 quilômetros de cercas de proteção e a ativação de pelo menos 20 radares em pontos considerados críticos ao longo de 284 quilômetros da rodovia.

As intervenções ocorrem após pressão ambiental e uma multa de R$ 9 milhões aplicada pelo Ibama em 2022 contra o órgão de infraestrutura. A rodovia opera sem licença de funcionamento desde 2014, e a regularização depende do cumprimento dessas exigências. O cronograma inicial previa a conclusão até o final de 2025, mas como os trabalhos ainda estão em fase inicial, a nova estimativa do DNIT é que as obras se estendam por dois anos.
Estrutura e correção de falhas
O projeto atual supera a exigência inicial do Ibama, que cobrava 140 quilômetros de telas. As proteções laterais serão instaladas a cerca de quatro metros do aterro da pista. Além das novas barreiras, o contrato inclui a remoção e reconstrução de 16 quilômetros de telas instaladas em 2019, que foram consideradas inadequadas por estarem muito próximas do asfalto e fora dos padrões técnicos.

O plano de engenharia contempla ainda a execução de dez novas passagens inferiores de fauna, limpeza no entorno de 44 pontes, adaptação de 22 bueiros de drenagem, construção de sete passarelas aéreas sobre a rodovia e a instalação de 58 acessos com gradil metálico.
Em relação ao monitoramento de velocidade, estudos do Ibama realizados em 2023 indicaram a necessidade de 22 equipamentos eletrônicos. Doze chegaram a ser implantados, mas a maioria encontra-se desativada. O novo aporte financeiro deve garantir o funcionamento de duas dezenas de controladores.
Limpeza de vegetação e Leucena
Outra medida em execução é a supressão da vegetação em uma faixa de sete metros de cada lado da pista. O objetivo, segundo o Ibama, é ampliar o campo de visão dos motoristas, permitindo que visualizem os animais antes que entrem no asfalto, além de reduzir o risco de incêndios causados por bitucas de cigarro.
O corte atingirá milhares de árvores, com foco na remoção da leucena, uma planta invasora que domina o trecho entre o Buraco das Piranhas e a ponte sobre o Rio Paraguai, suprimindo a flora nativa. A vegetação original será preservada apenas nas faixas de 30 metros próximas a córregos e nas regiões de morraria, onde serão fixadas as passagens superiores para espécies arborícolas, como macacos e quatis.
Estatísticas de mortalidade
Dados levantados pelo Ibama mostram um salto na quantidade de óbitos na estrada. Em 2011, a média era de 1,67 atropelamento por dia. Em 2021, o índice subiu para 10,5 mortes diárias. A explicação técnica vincula o aumento ao crescimento do tráfego e às queimadas no Pantanal a partir de 2020, que afugentaram os bichos em direção à rodovia.
Um monitoramento realizado pelo instituto Via Fauna entre dezembro de 2020 e novembro de 2021 encontrou 3.833 carcaças na via. As vítimas mais frequentes foram 516 jacarés, 305 tatus-galinha, 301 graxains, 300 cachorros-do-mato, 268 tatus-peba, 155 capivaras e 137 tamanduás-mirim.
O levantamento também documentou a morte de animais ameaçados de extinção: foram recolhidos 59 tamanduás-bandeira, 19 cutias, 14 lontras, 13 antas, 12 bugios pretos, 5 cervos-do-pantanal, um lobo-guará e uma onça-pintada.
