Vídeo registrado por esta redação mostra a gravidade da situação em um dos principais corredores logísticos do país
Márcio Cavasana
Um vídeo gravado por esta redação no final de outubro acende um sinal vermelho sobre a real condição da Ponte Poeta Manoel de Barros, na BR-262, em Corumbá (MS). As imagens são impressionantes: a área danificada da estrutura chega a tremer visivelmente toda vez que carretas e caminhões pesados passam pelo trecho comprometido.
A ponte é estratégica e vital para o Brasil. Além de ligar Corumbá ao restante do Mato Grosso do Sul, ela é rota fundamental para o transporte de cargas e passageiros, conectando o país à Bolívia e ao mercado internacional. Qualquer falha estrutural mais grave pode causar acidentes fatais, impactos econômicos, logísticos e sociais de grandes proporções.
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Estrutura desgastada e reparos paliativos
Com o passar dos anos, o desgaste da ponte se tornou evidente. Obras emergenciais já foram realizadas, mas apenas para conter danos imediatos. Enquanto isso, trechos seguem operando de forma parcial, com limitações, aguardando uma intervenção definitiva que insiste em não sair do papel.

O Governo de Mato Grosso do Sul tenta viabilizar uma obra de recuperação estimada em R$ 11,7 milhões, porém o processo enfrenta uma série de entraves técnicos e jurídicos. A complexidade envolve projetos, vistorias do DNIT (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes) e, posteriormente, a entrega da estrutura ao Governo Federal, o que prolonga ainda mais a solução.

Licitação suspensa e suspeita de sobrepreço
Recentemente, o Tribunal de Contas do Estado de Mato Grosso do Sul (TCE-MS) determinou a suspensão da licitação para as obras de recuperação da ponte. O órgão estabeleceu prazo para que o Governo do Estado esclareça incoerências encontradas no processo.
Um dos pontos mais graves apontados é a discrepância nos valores destinados à mobilização e desmobilização de equipamentos. Em um documento, o custo aparece como R$ 160.034,49, enquanto em outro consta R$ 66.053,42. Para o TCE, a diferença pode caracterizar indícios de sobrepreço.
Projetos antigos e risco de novos custos
Relator do processo de controle prévio, o conselheiro Sérgio de Paula destacou que as lacunas técnicas são significativas. Segundo ele, os projetos foram elaborados em 2023, mas a obra está prevista para começar apenas em 2026.
Essa defasagem temporal preocupa. O conselheiro alerta que o atraso pode gerar:
- necessidade de aditivos contratuais,
- desatualização de normas técnicas,
- e inadequação de procedimentos, elevando ainda mais os custos e os riscos da obra.
Enquanto isso, a ponte continua tremendo
Enquanto decisões administrativas e jurídicas se acumulam, a ponte continua em uso diário, suportando o peso de carretas, caminhões e ônibus. O vídeo registrado mostra o que motoristas já sentem na prática: a estrutura reage de forma visível à passagem dos veículos, levantando dúvidas e apreensão sobre a segurança.
A pergunta que fica é inevitável: será preciso esperar um acidente para que a recuperação definitiva saia do papel?
Até lá, a Ponte sobre o Rio Paraguai segue como símbolo de um problema que mistura urgência, burocracia e risco real à população.
